segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

ELE


Esta semana antecede o Natal. Os primeiros cristãos adotaram 25 de dezembro como a data do nascimento de Jesus para se opor à festa pagã do Sol Invictus.
Conseguiram. A data ingressou no calendário cristão pela primeira vez, segundo a tradição, no ano de 330, quando da construção da basílica constantiniana de São Pedro, em Roma.
Estendeu-se a data comemorativa por toda a cristandade ocidental, salvo tradições locais das igrejas ortodoxas. O costume, no decorrer do tempo, elevou a data da natividade em momento de evocação de valores espirituais.
Jesus, nome popular na Palestina à época do nascimento de Jesus de Nazaré, nasce em momento de depressão do povo judeu. A ocupação romana e o surgimento de falsos messias surtiam efeitos negativos.
A pregação do filho de José logo surtiu efeito. Jesus passou a ser seguido por adeptos pelas estradas palestinas de então. Corporifica, como registra a Teologia: o Filho de Deus para os cristãos.
No entanto, as três religiões monoteístas, nascidas na bacia mediterrânea, recolhem a figura de Jesus. Os muçulmanos, conforme a Sagrado Alcorão, arrolam Jesus como profeta.
A rica literatura judaica confere a Jesus de Nazaré registro em livros meramente históricos. Seria mais um falso messias. Os evangelistas, contudo, presentes no início da pregação eram todos judeus.
Jesus de Nazaré - o Messias, aquele que vem salvar, - teve sua vida e feitos examinados pelos mais eminentes estudiosos das religiões. As pesquisas e comentários preenchem grandes bibliotecas por todo o Ocidente.
A sua pregação levou povos à morte e suas palavras, muitas vezes, foram utilizadas de maneira deformada e cínica. Governos totalitários, afirmando defender valores, praticaram, em seu nome, grandes carnificinas.
Ainda hoje, as mentes são deformadas por falsos clichês usados para marcar e denegrir comunidades em virtude da religião que professam.
Buscam alguns governantes denegrir valores e tradições, sem respeitar a identidade de cada povo e suas vontades de expressar a vocação espiritual singela ou coletiva. Todas as guerras possuem um componente religioso.
Há, na atualidade, um eclipse do sagrado. Este seria provocado pela evolução dinâmica da ciência e da técnica-industrial. O fenômeno gera um homem serenamente ateu.
Apesar desta situação nova, a espiritualidade, em muitas mentes, mostra-se atuante e repleta de vibrações. Basta observar os templos dos múltiplos credos.
A religião permitiu, por meio das inúmeras confissões, reintegrar pessoas, nas diversas partes do país, em novas comunidades. Em uma sociedade onde a imigração foi constante e selvagem, a religião, pois, teve papel decisivo em reorganizar a vida comunitária.
Agora, chega à hora de comemorar a festa maior da cristandade. A velha formula proto cristã, de dividir o pão entre os membros da comunidade, transformou-se muitas vezes em mero ato consumista.
O capitalismo - em sua ânsia voraz - capturou todos os sentimentos nobres e os transformou em meros objetos de troca. Já não vale o mero sorriso. Exige-se a presença da troca com valor monetário.
As pessoas se endividam para presentear. O sagrado foi posto de lado. Não tem significado. Poucos se lembram da singela manjedoura, berço de Jesus de Nazaré.
Todos se recordam dos monumentos construídos em sua homenagem por governantes perversos e seguidores usurpadores. Poucos se lembram da simplicidade do Natal autentico.
Independente da postura adotada - ateu ou adepto das múltiplas confissões religiosas - vale sempre possuir a consciência da importância fundamental de cada ser vivo.
Seria oportuno, nesta semana, fechar os olhos para o mundano e abrir os corações para o interior das próprias mentes. Um exame de consciência, livre de postura religiosa, é sempre oportuno.
No mínimo, evita agredir o outro por mero lance de ódio ou vaidade.


Fonte: Terra.com.br
Escrito por Cláudio Lembo, advogado e professor universitário. Foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário