sábado, 2 de julho de 2011

CRIANÇAS CHEFES DE FAMÍLIAS


Matéria Publicada na Revista ISTOÉ

Mais de 130 mil brasileiros com menos de 14 anos trabalham o dia inteiro para sustentar suas casas
Paula Rocha
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SACRIFÍCIO
Luciana e Moisés (com Peterson no colo): 11 horas
de trabalho diárias  e uma renda familiar de R$ 450
A maioria trabalha nas ruas – vende produtos de pequeno
valor, separa material reciclável, é “flanelinha” ou engraxate
As costas doem e os pés descalços latejam de frio. Mesmo assim, Luciana, 13 anos, e Moisés, 8, andam entre os carros de uma movimentada avenida na zona sul de São Paulo. Nas mãos enrijecidas pelo vento gelado, os irmãos carregam caixas com gomas de mascar, que vendem a R$ 0,10 cada. Por trás dos vidros fechados, a maioria dos motoristas ignora a presença das duas crianças, que migram para as calçadas do Largo 13, região popular do bairro de Santo Amaro. Ali oferecem sua mercadoria aos passantes que transitam entre lojas, bares e restaurantes, também sem sucesso. O trabalho na rua, apesar de difícil e ilegal, pois é vetado para menores de 16 anos, é a única alternativa para Luciana e Moisés. Com o pai e a avó materna encarcerados e a mãe desempregada, a dupla é responsável pela renda da família, cerca de R$ 450 mensais. Sua lida diária é o retrato da dura realidade de 662 mil jovens entre 15 e 19 anos e de outras 132 mil crianças entre 10 e 14 anos que são arrimo de família, segundo dados preliminares do Censo 2010 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No ano em que se comemora a maioridade do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), criado em 1990, o brasileiro tem poucas conquistas para celebrar. “O trabalho infantil de exploração ou trabalho escravo tem diminuído com o crescimento das denúncias e a atuação da Organização Internacional do Trabalho (OIT)”, diz o advogado Ariel de Castro Alves, vice-presidente da Comissão Nacional da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “Porém, o trabalho infantil doméstico ou em situação de rua tem aumentado.” De acordo com pesquisa realizada em 2010 pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e pelo Instituto do Desenvolvimento Sustentável (Idest), a maioria das crianças em situação de rua vive com os pais. Do total de 23.973 jovens entrevistados em 75 cidades brasileiras, 59,1% moram com a família e 65% exercem alguma atividade remunerada nas ruas – 4,1% atuam como engraxates, 16,6% separam material reciclável, 19,7% se definem como “flanelinhas” e 39,4% vendem produtos de pequeno valor, como Luciana e Moisés. Os dois começaram a trabalhar há quatro anos. Na época, a mãe deles, Patrícia, aconselhada por uma vizinha, levou os filhos para pedir esmolas e vender chicletes numa feira livre. Voltou para casa com R$ 40 no bolso. “No começo senti muita vergonha de pedir dinheiro, mas depois me acostumei”, conta Luciana. “Só que, se vejo alguém conhecido na rua, saio correndo para me esconder”, diz a menina, revelando quanto sua condição ainda a constrange.

Luciana e Moisés são moradores do Jardim Aracati, bairro no extremo sul de São Paulo. Falta tudo no barraco onde vivem com a mãe e o irmão, Paulo Peterson, de seis meses. Luz, esgoto, água encanada e até comida parecem luxos inacessíveis. Não há nenhum brinquedo na casa. A diversão é restrita a brincadeiras nas ruas do bairro ou na hora do trabalho, quando eles encontram outros colegas que também vendem doces na rua. Geralmente, Luciana, Moisés, Patrícia e Peterson ficam nas ruas das nove horas da manhã às oito da noite. Às vezes, alguém se sensibiliza e oferece uma refeição. “Nunca digo não, mesmo que já tenha comido antes, porque a comida que sobra a gente leva pra mãe e pro Peterson”, conta Moisés, que não está estudando neste ano. Luciana está matriculada no ensino fundamental, mas pode perder a vaga, pois não comparece às aulas desde março. “Não tenho mais vontade de ir pra escola”, diz. Na sétima série, a menina não sabe ler. No horário em que deveria estudar, cuida da casa, dá banho no irmão caçula, dança funk com as amigas e assiste tevê na casa de uma vizinha. A pior lembrança de sua vida remonta à morte do irmão mais velho, Paulo, há três anos. Voltando de mais um dia de trabalho nas ruas, o garoto, com 13 anos na época, morreu ao ser atropelado por um ônibus.
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EXEMPLO
Wallace estuda, trabalha e sustenta a mãe doente e os irmãos com seu salário
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“A falta de integração entre as políticas públicas é um dos motivos que levam esses meninos a trabalhar nas ruas”, diz Marcelo Caran, coordenador da Fundação Projeto Travessia, organização que atua com jovens em situação de risco. Para diminuir o contingente de menores de idade arrimos de família, Ariel Alves, da OAB, defende duas medidas. “Em primeiro lugar, planejamento familiar. E, em segundo, a criação de programas que orientem e apoiem famílias carentes, incentivando o desenvolvimento de cooperativas e a busca por um emprego formal”, diz. 

A trajetória do jovem Wallace Santos é uma prova disso. Aos 17 anos, ele enfrenta uma responsabilidade de gente grande. Às quatro horas da madrugada já está de pé. Da sua casa, um cômodo que divide com a mãe e quatro irmãos em Ferraz de Vasconcelos, município da região metropolitana da capital paulista, pega trem, metrô e ônibus para chegar até o colégio estadual onde cursa o primeiro ano do ensino médio. De lá corre para o Sindicato dos Bancários de São Paulo, onde é, desde 2009, um dos contratados através da Lei do Aprendiz, que oferece estágio para estudantes matriculados na escola e em cursos profissionalizantes. Com o salário mínimo de R$ 545 que recebe, o tímido rapaz, fã de quadrinhos japoneses, desempenha o papel de principal provedor da sua família.

A mãe, Rita Dias de Matos, é uma ex-doméstica diabética, cardíaca e com pressão alta, que se viu obrigada a largar o batente há sete anos por motivos de saúde. O irmão mais velho, Wesley, 19 anos, vive de bicos e os mais novos, Bianca, 13, Washington, 11, que tem problemas de aprendizado, e Daiane, 3, passam o dia em casa com a mãe. Mas a rotina da família já foi pior. Wallace viveu dos 2 aos 8 anos de idade em abrigos, apenas na companhia do irmão Wesley. Em 2002, voltou a morar com a mãe e os outros irmãos, mas, assim como os pequenos Luciana e Moisés, teve de vender balas e fazer malabares nas ruas para sobreviver. Nas vezes em que a fome apertava, chegou a furtar alimentos. “Hoje me sinto bem por ter um emprego e ajudar minha mãe”, diz.

Apesar de comovente e exemplar, seria melhor que a história de Wallace não fosse necessária. O ingresso precoce no mercado de trabalho pode impedir uma carreira ascendente no futuro. “O jovem que hoje trabalha para sustentar sua família muitas vezes não terá emprego amanhã, pois não pôde se qualificar devidamente”, diz o advogado Alves. “Uma formação com apenas o ensino médio ou um curso técnico estará aquém das exigências do mercado.” A solução para erradicar o trabalho infantil e amenizar a carga de responsabilidade dos adolescentes que têm de sustentar suas famílias permanece longe de ser encontrada. Até lá, Luciana, Moisés e Wallace continuarão levando suas lutas diárias em busca de uma vida mais digna, mas sem planos claros para o porvir. Nenhum deles sabe o que “quer ser quando crescer”. Eles não têm desejos de consumo nem planos para o futuro próximo. As preocupações de chefes de família ofuscam os sonhos dessas crianças.  
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segunda-feira, 27 de junho de 2011

UMA VISÃO REALISTA SOBRE AS CRIANÇAS EM NOSSAS IGREJAS

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Vamos ao artigo:

Lembro -me que há alguns anos conheci um colega em um curso de líderes de crianças e adolecentes. Ele estava muito empolgado com o que havia aprendido e pronto para colocar em prática.
Lembro-me que ele foi para uma igreja onde as palavras de incentivo do Pastor só o encorajava a desenvolver um trabalho cada vez melhor. Mas a medida que o número de crianças que vinham para a igreja aumentava as palavras de incentivo diminuíam pois elas passaram a ser um "problema" já que a igreja era pequena, não tinha recursos e blá, blá, blá.
Finalmente este meu amigo foi desanimando até que finalmente abandonou seu ministério.

Para que isto não aconteça com você a primeira coisa que precisa estar claro é que este ministério é um dos mais árduos e não tem destaque na igreja (eu disse igreja, não para Deus).

As igrejas não priorizam as crianças: você já reparou que no domingo a noite os obreiros (será não são todos os irmãos incluindo o Pastor?) não vêm a hora de as crianças irem para a salinha onde, em muitos casos, encontrarão um professor desmotivado ou despreparado? Fui em uma igreja onde quem cuidava das crianças era um diácono bigodudo com cara de Stalin. Ficava na porta para não deixar as crianças saírem e ao menor sinal de bagunça mandava-as calarem a boca. Deu-lhes um desenho com um versículo para pintarem com lápis de cor sem ponta e, claro, não havia apontador na "lata" de lápis. Digo isto não porque ache que não é fundamental as crianças terem um espaço dedicado a elas para renderem seu culto ao Senhor e terem a oportunidade de aprenderem a Palavra num nível que possam compreender e assimilar ou que tenha algo contra diácono com bigode e cara de Stálin mas digo pelo conceito básico do pensamento: não querem que elas vão para a salinha porque devem aprender da forma adaptada à idade, mas sim porque estão atrapalhando o culto dos adultos. Nas igrejas onde o espaço é reduzido as crianças são as primeiras a serem retiradas do banco e, se não há um ambiente adequado para elas ficarem são "colocadas" nos corredores da igreja. Não entendem estes irmãos que as crianças devem ser priorizadas. Nossas igrejas são formadas por pessoas que tiveram contato com a Palavra de Deus quando eram ainda crianças. As pesquisas dizem que 85% dos atuais cristãos creram entre os 4 e 14 anos de idade. Não acredita? Faça uma pesquisa em sua igreja e comprove. Se quiser saber mais escrevi algo sobre isso. Clique AQUI e saiba mais.
O ensino cristão para crianças não tem um retorno imediato: aqui há um outro motivo que muitas vezes desestimulam nossos lideres de crianças, eles não vêm evolução aparente nas crianças e creditam este fracasso a sua falta de talento ou incapacidade. Esquecem-se que a semente foi plantada e o crescimento quem dará é Deus. Quando ensinamos crianças o crescimento não é visível (exceto em alguns casos) já que estamos trabalhando com conceitos que para eles ainda são incompreensíveis. Mas tenha absoluta certeza que em determinada fase da vida elas usarão o que você com tanto carinho ensinou e a vida Cristã deles será próspera pois você, apesar da não ver o resultado imediato (talvez nunca veja) está consciente de que a semente foi plantada e irá germinar. Há alguns meses atrás encontrei um pastor que me chamou de Tio Alexandre!?! Não me lembrei dele mas ele me disse: eu aceitei Jesus em um encontro de crianças onde você contou a história. Aquilo foi melhor que Red Bull para meu ministério. É bem verdade que depois disso terei que mudar meu título de Tio para Vovô. Quem sabe quantos irmãos, irmãs, líderes, pastores existem por ai que foram evangelizados por você? Pense nisso;
A maioria dos nossos líderes de crianças não tem preparo adequado: não fique triste comigo mas esta é a mais pura verdade. Muitos lideres infantis se desmotivam e por conseqüência os lideres destes líderes porque não tiveram o preparo adequado. Cairam de para-quedas em um grupo de crianças porque eram simpáticos, engraçados, sabiam pintar ou fazer alguma arte e algum iluminado achou que era a pessoa adequada para aquela função (não se esqueça de que temos pouquíssimos líderes de crianças em nossas igrejas e pegam a laço o primeiro que demonstra o mínimo talento). Então como resolver isto? O que diferencia o ordinário do extraordinário e este pequeno sufixo "extra". Então prepare-se, pesquise, faça cursos, se dedique, mas acima de tudo ore, ore, ore, ore, ore........e atinja este "extra", Um bom líder tem a convicção de que se pode alcançar algo e com isso inspira os outros a conseguirem. No nosso caso o Céu através de Jesus Cristo;
Listei só três coisas mas poderia escrever páginas e páginas. Mas não posso deixar de mencionar: crianças precisam de investimento ($$$$$) e as igrejas não o fazem. O professor tem que fazer isto com recursos próprios o que, com o passar do tempo o desestimula (ou então implora que alguém o ajude...).

Alexandre.